terça-feira, 15 de março de 2011

         É chegada a hora de tornar público mais um escrito meu. Apreciem sem moderação...

O desejo

É possível ser adolescente sem se apaixonar por um homem mais velho?! A excitação que a experiência de vida pode causar em uma menina desenvolve um fascínio irresistível de ser controlado.
Quando vi aquele homem bem mais velho que eu, 14 anos de diferença, me olhar com olhos de desejo, a vaidade me fez companhia, pois ainda adolescente já exercia bem as minhas responsabilidades e a futilidade nunca me acompanhou. O que me pertencia era um imaginário fértil sobre o que era o amor, o sexo, o desejo, o encontro de corpo e de alma. Ele então, sempre se comportou de maneira muito respeitosa e responsável, pois além de se tratar de uma menor de idade, era amigo de toda a minha família, aliás, nossas famílias eram amigas.
Me lembro muito e bem, de suas mãos, eram mãos não muito grandes mas tinham um formato perfeito. Além de serem bem cuidadas e feitas semanalmente, eram mãos que sabiam tocar, acarinhar uma mulher com perfeição. Eu me perdia em pensamentos quando as via. A concentração me fugia e eu ficava meio boba mesmo em minha imaginação de menina pensando no seu toque em meu rosto, meu corpo, meu cabelo. Imaginava a cena dele segurando meu rosto com carinho enquanto me beijava. O que seria do homem sem a imaginação?! Segundo Einstein, ela é mais importante que o conhecimento. Eu, em hipótese alguma, posso discordar.
A questão é, depois de alguns dias de convivência, me vi sozinha com ele, só nós dois juntos. Eu tentava executar minhas tarefas, ele também, mas, redundantemente nos chocávamos, acredito eu que propositalmente. Até que, em um desses choques, aquele momento aconteceu. Aquele em que as pessoas se olham fixamente e perdem a voz, as palavras fogem e os olhos percorrem cada pedaçinho do rosto do outro. Esse momento existe!!! Eu achava que era apenas cena de novela. Não, aconteceu comigo. É um momento de transe, de êxtase. Você se vê ali parada, frente a frente com seu “objeto” de desejo. Ele estava a poucos centímetros de minhas mãos. Esse foi um dos poucos momentos de minha vida, que perdi a retidão dos meus pensamentos. Foi um prazer bem irresponsável, infrator e delituoso. Ele ia me beijar. E quando inclinou seu corpo para fazê-lo e tocou meu rosto com delicadeza e aquelas mãos realmente perfeitas, como eu havia imaginado...eu me afastei. Pedi que ele amarasse meu cadarço, é, o cadarço do tênis que eu usava no dia. Ele delicadamente se agachou e o fez. Amarrou meu cadarço. Perguntou se estava bom. Eu respondi que sim, ainda sem retomar a minha consciência, ainda embevecida pelo momento. Senti um prazer inédito naquele momento. Primeiro pelo desejo explícito que ele tinha por mim, depois pela delicadeza que teve ao ter se agachado, se colocado aos meus pés para amarrar meu cadarço.
Quando então ele ficou de pé, eu agradeci pelo favor, me despedi e fui pra casa. Fui todo o caminho exercitando a responsabilidade de não tê-lo beijado. Eu não me culpava por não ter acontecido, o beijo, nem me arrependia por não ter seguido em frente, de ter interrompido a vontade de nós dois. Eu enxergava apenas o orgulho em ter despertado nele o desejo em me beijar. Você ser dono do desejo do outro representa que esse desejo é seu. Me senti gloriosa, não me importava se era tesão, paixão, amor, não queria saber o que o fez tentar me beijar. O que me importava e interessava, foi que eu o atraí e não foi uma atração qualquer. Pelo respeito que as nossas famílias tinham uma pela outra, ele sabia que aquele era um ato transgressor. Eu o fiz transgredir.