sexta-feira, 20 de maio de 2011



Teus olhos
Marcelo Camelo e Zé Pereira

Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos
Teus olhos abrem pra mim

Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos bons
Tudo que se quer vai lá

Eu vi na terra
Você chegando assim
Assim, de um jeito tão sereno

Ai, ai, meu Deus do céu
Eu vivo sem pensar
Se sou só

Acho que não vou mais
Agora tudo tanto faz,
meu bem
Eu vi você passar
levando meu encanto

Caminho sem saber de mim
Eu vivo sem pensar
Se sou só
Ou sou mar

Mas eu conto com você
Pois enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá
Mas enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Nesse momento de incertezas, onde a vida me apresenta muitas dúvidas e sensações, nada melhor do que a escrita para me apresentar um pouco do conforto que necessito. Apreciem com carinho.


A menina do “não sei”
Em todas as fases e faces de nossa vida existem acontecimentos e sentimentos que promovem o nosso amadurecimento, autoconhecimento e maturidade. Mas, certamente, a mais prazerosa delas é a adolescência. Nessa fase da vida tudo é mais intenso, forte e avassalador. Eu fui uma adolescente muito tranqüila no que diz respeito ao tratamento com os meus pais, amigos e estudos. Nesses aspectos, tudo transcorria na mais perfeita harmonia. Porém, quando se tratava de amor, de me apaixonar, do trato com o sexo oposto, eu me sentia como um mar constantemente bombardeado por muitas tempestades. Uma delas foi um estudante de psicologia que parece ter encontrado em mim um caso de extrema complexidade para os conceitos recentemente aprendidos sobre a mente humana.
Nos conhecemos por intermédio de amigos comuns e inicialmente uma empatia bem serena e agradável fazia parte das ocasiões que nos encontrávamos. As conversas eram sempre muito prazerosas, as afinidades e os diálogos cheios de conhecimento e algum tipo de sabedoria, encantava-nos mutuamente. Um ambiente de admiração e carinho foi sendo construído entre nós. Conversávamos sempre. Nos víamos com freqüência e ficávamos com saudade desses momentos de encontro de almas. Com saudade daquela sensação boa de ter encontrado alguém que é seu lugar no mundo.
Por ser uma pessoa mais prática e racional, como definida por ele mesmo, a necessidade de um envolvimento também sexual se fazia necessária na minha concepção, para tornar completo esse encontro tão ímpar em minha vida. Eu necessitava de beijos, de beijos ardentes, daqueles que nos deixa sem fôlego, que nos fazem sonhar com a pessoa, que nos fazem transcender só de lembrar da sensação tão prazerosa que é esse encontro verdadeiro de lábios e línguas. Mas, como uma mocinha bem comportada que era, jamais tomaria a iniciativa em beijá-lo. Eu sentia que ele também desejava esse momento mas, acredito eu, devido a esse encontro tão raro que tivemos, talvez ele não o quisesse estragar, transformando-o em algo tão tátil.
O apelido mais carinhoso que ele conseguiu me dar foi “a menina do não sei”. Depois que eu já me via apaixonada por ele, os nossos diálogos perderam a veemência em discutir o conhecimento, as teses e concepções do mundo. Eu já não me sentia tão segura e hábil a responder algumas de suas indagações. Perdi a segurança diante dele. Fiquei frágil. Então, para muitos de seus questionamentos, eu respondia sempre dizendo um simples “não sei”. Na verdade, eu já não sabia se sabia ou não responder às questões que ele me propunha. Me via tão embriagada pelo que estava sentindo que perdi o foco de impressioná-lo, de participar de maneira mais incisiva e culta das conversas que tínhamos. Ele certamente percebeu e foi muito sútil em me mostrar isso.
Algumas das muitas vezes em que nos encontrávamos, não sozinhos, mas sempre na companhia de amigos comuns, éramos os últimos a nos abandonarmos, ficávamos horas a fio envolvidos em nossas palavras, e por conta disso, algumas vezes ele me levava em casa. A nossa conversa era alimentadora de passos lentos e às vezes algumas paradas por entre as ruas quase desertas no caminho onde eu morava. Ele era bem mais alto que eu, o que me levava a pensar, por algumas vezes, em como seria possível nosso beijo. Felizmente, como homem inteligente que é, isso foi facilmente resolvido no momento oportuno, que felizmente chegou. É, chegou. Em um desses dias que fomos abandonados pelos nossos amigos diante do tanto que tínhamos a dizer um para o outro, ele cumpriu com sua gentileza ao me acompanhar até em casa. O caminho foi, como sempre, bem agradável. Com discussões que versavam de política, cultura, educação, amor, etc. No momento então que me vi em frente de minha casa e pronta para mais uma vez me despedir dele com um beijinho no rosto e um desejo de boa noite, ele me pegou pela cintura e me colocou sobre a calçada, que era um pouco alta, possibilitando então que tivéssemos quase a mesma altura. Eu agora era mais alta que ele, o que facilitou para que eu me apoiasse em seus ombros e ele me puxasse para si e eu então tivesse a tão desejada oportunidade de beijá-lo. E assim eu o fiz. Foi um beijo tão simples, calmo, demorado e doce. Não consegui fazer como imaginei, um beijo sensual. Eu diria até, se isso é possível, que foi um beijo maduro e complexo. Embora envolvendo dois adolescentes, foi um beijo adulto, fruto de um amor longamente semeado, cautelosamente cuidado e finalmente colhido.