quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A luta do amor

     O amor é uma odisséia...travada entre razão e sentimentos. Sinto uma guerra acontecer dentro de mim. É algo que me embrulha o estômago, acelera o coração e faz esvair pelos meus olhos a água mais pura do meu ser.
     O amor é impossível na amizade. O desejo é tão doentio, que desprove de elegância seres bem educados.
     O amor é insano. Assim eu o senti, assim ele foi para mim muito forte, verdadeiro, único e fiel, e sem dúvida alguma, inesquecível.

A dor...de cabeça.

Minha cabeça dói. É uma dor muito fina e constante, que consegue me provar que ela não é oca, como muitos algum dia pensaram.
A minha cabeça, que sempre foi um leme ao conduzir tudo que rege meu corpo, está desorientada.
Assim sendo, essa dor que a assola desregula cada célula que me compõe.
Me sinto perdida dentro de mim mesma, a procurar o molde que vivi encaixada durante todos esses anos.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

"Tenho muitas pessoas para fazer muitas coisas.
  To precisando de alguém para fazer nada."

sábado, 24 de dezembro de 2011

"Porque toda razão, toda palavra
 Vale nada quando chega o amor..."

Caetano Veloso
 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

"Pretendo descobrir
  No último momento
  Um tempo que refaz o que desfez,
  Que recolhe todo sentimento
  E bota no corpo uma outra vez."


                                                             Chico Buarque

domingo, 4 de dezembro de 2011

O fim

Minha alma está morrendo. Aos poucos a sinto esvair-se. Apesar de um corpo jovem, tenho uma alma cansada. Cansada do poder de decisão que exerci no mundo. O meu corpo encontra-se debilitado de energia. A energia dos que sonham. Há algum tempo parei de sonhar. De almejar objetivos e fantasiar o meu futuro. Não conheço a sensação da conquista de um sonho realizado. O percurso para conquistá-lo não é vivido por mim. Tudo me parece sempre um ponto final. Minha alma está cansada...fatigada e morrendo. Talvez se eu sobreviver a essa passagem, de sentir-me morta, ainda viva, eu jamais seja igual a antes. Certamente serei, finalmente, triste.

sábado, 22 de outubro de 2011


O que move o mundo certamente é o amor.
Não existe outra mola que faça o mundo propulsar.
É por amor que homens vivem e é por ele que morrem.
É ele, o amor, o grande modificador dos seres.
E embora não seja sempre, por vezes, ele é criador dos seres.
Um marido ao chegar em casa, encontrando o colo acalentador de sua esposa.
Um soldado voltando da guerra aos braços de sua família.
Uma criança ao chegar da escola, se jogando nos braços de sua mãe.
Um estudante acarinhando seu professor.
Um encontro com um amigo, sendo receptivo com um caloroso abraço.
Os namorados, os noivos, os esposados, os filhos, os alunos, os amigos.
Essa dependência do outro.
Essa certeza de que nos encontramos no outro é uma das mais sublimes formas de amar.
A certeza de que tudo estará bem no nosso retorno.
A certeza de que o outro estará a nos aguardar, lá, em qualquer lugar que ele esteja, pois o lugar é o que menos importa. As pessoas sim!
O ideal seria que todos tivessem essa oportunidade.
De encontrar alguém que o acolha.
Que esteja lá, esperando...aguardando sua chegada...que o recepcione com um sorriso identificador.
Aquele que só os códigos mais íntimos são capazes de desvendar.
A dependência do amor é certamente a mais saborosa de todas!
Ela se transcreve através do outro, mas é ele que queremos.
Muitos cientistas, químicos, biólogos, explicam essas sensações através de um encadeamento de várias substâncias.
Mas, eles mesmos, quando as sente não sabem explicar.
Ou tentam e não conseguem, ou acham que conseguiram, iludidos.
Esse é o verdadeiro papel do amor, desconfigurar o que o homem tenta moldar, emoldurar, engessar.
Ele transcende, rompe, transborda, transfigura e muta.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A despedida

É chegada a hora.
Essas últimas dedicatórias não cabem em nenhuma página de livro.
Será veementemente difícil olhar e sentir as tantas obras literárias ou não, e não poder presenteá-lo. Ficará em minha memória, uma ação não concretizada de você as lendo, as vendo, as ouvindo e sobretudo, sentindo, com a sensibilidade única, que lhe é peculiar, que nasceu e continua a crescer num filho caçula de uma mãe rígida e zelosa.
Felizmente, a minha ausência nesse aspecto não acarretará em um dano tão grande na sua rica construção cultural, creio que mais perderei eu, pelo seu entusiasmo, a sua alegria em descobrir, opinar, escrever e abarcar o que essas poucas migalhas de cultura erguem em seu ser. Perderei eu, em não vê-lo cada vez mais transformado, mais translúcido, mais forte, mais orgulhoso, mais feliz.
Será muito difícil me desvencilhar do vício que se tornou o "presentear" você. O vício que se tornou enxergar você em tudo que soa culto, belo, rico, ímpar. Será um duro exercício, que nem a magnífica Matemática poderá me ajudar a resolver. Só a mim, e diante de todas as possibilidades da re-criação de mim mesma, cabe essa árdua e dolorosa tarefa. Que Deus me ajude! E a você, que continue abençoando sempre, sempre, sempre, sempre...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Os Três Mal-Amados
João Cabral de Melo Neto


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa, as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011



As Palavras
Composição: Sereia de Água Doce (Vanessa da Mata)

As palavras saem quase sem querer,
Rezam por nós dois.
Tome conta do que vai dizer.
Elas estão dentro dos meus olhos
Da minha boca, dos meus ombros
Se quiser ouvir
É fácil perceber.


Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição
Faça luz onde há involução
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu mal
Reabilite o meu coração.


Tentei
Rasguei sua alma e pus no fogo
Não assoprei
Não relutei
Os buracos que eu cavei
Não quis rever
Mas o amargo delas resvalou em mim
Não me deu direito de viver em paz
Estou aqui para te pedir perdão.


Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição
Faça luz onde há involução.
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu mal
Reabilite o meu coração.


As palavras fogem
Se você deixar
O impacto é grande demais
Cidades inteiras nascem a partir daí.
Violentam, enlouquecem ou me fazem dormir
Adoecem, curam ou me dão limites
Vá com carinho no que vai dizer.


Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição.
Faça luz onde há involução
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu mal
Reabilite o meu coração.


sexta-feira, 22 de julho de 2011


Aquilo

Aquilo não era amor.
Era um acelerar de corações,
um frio incessante na barriga,
sem começo nem fim.

Aquilo não era amor.
Era um abandonar do mundo
para estar com uma única presença.

Aquilo não era amor.
Era um nervosismo constante,
uma necessidade urgente
de termos um ao outro.

Aquilo não era amor.
Era a negação de tudo que
eu achava que era
para deixar chegar quem ele
acreditava que eu seria.

Aquilo não era amor.
Era um desejo que só
tinha começo,
era a reinvenção do prazer humano.

Aquilo não era amor,
era muito mais.

 

quinta-feira, 21 de julho de 2011



Hoje eu sinto saudade de mim mesma.
De uma “eu” que o tempo levou.
De uma inocência juvenil.
De um dispensar das horas, sem culpa.
De uma bestialidade com sentido.
 
Hoje, eu vejo essa versão de mim se afastar cada vez mais.
Vejo-a muito distante,
e por vezes, a vejo me ver.
O estranhamento é nítido.
Quase a sinto reprovando minhas ações,
criticando meu sorriso falso e
ironizando a minha falsa felicidade.

Hoje, nesse meu momento de buscar onde sentir
que estou perdendo a mim mesma,
o instante me escorre pelos dedos e o cotidiano
exige minha presença.

 

terça-feira, 19 de julho de 2011



Impressões

Desde muito pequenina a curiosidade foi minha companheira, meu alimento, minha guia. Desde muito menina, aprendi o prazer e os riscos de dar asas à minha alma e à curiosidade que habita em mim. E não cresci diferente, admito! Embora saiba e tenha consciência, embora a razão não me tenha faltado, me tornei sim, uma mulher curiosa, alerta para as maravilhas da vida, uma mulher que se permite o encanto de cada descoberta. E, antes que os julgamentos se multipliquem, antes que se cristalizem sob mim, saio em minha defesa!
O que seria do mundo sem os curiosos? São eles que perpetuam as descobertas, as melhorias, os sonhos, o encontro com o que se busca, se deseja! E foi em busca do encontro comigo mesma, foi pela necessidade de obter respostas a questões outras minhas e quiçá, da humanidade inteira, que cheguei às minhas descobertas. Assim que pude tecer opiniões, sobre o mundo e sobre a existência, me vi povoada de incertezas saltitantes, ébrias, e tresloucadas de mim e do mundo. Antes de rir-se de mim, ou da inocência declarada das palavras minhas, recobre a memória que há em ti de liberdade e devaneios e verás lá também tantas outras indagações pueris, ou nem tanto assim, fruto dessa tal curiosidade. Tentarei explicar, se possível, o motivo, ou a motivação para tais palavras tão errantes, e tão frágeis no seu existir.
Nesta manhã, que seguia como tantas outras, sem importância, ou sabor nenhum, me deparei novamente com a curiosidade que há em mim, genuína, sincera e pura talvez, refletida na minha imagem, sim, lá estava o pivô de todo esse embrolho semântico e lingüístico, que no fundo busca sentido, para minha alma que sabe o peso de todas as incertezas que trás em si.
 Na imagem refletida pelo espelho com a ajuda da luz matinal que adentrava pela janela, como se fosse a luz do saber, do conhecimento, do desvendar, pude ver, pude me ver, e examinar cada parte do meu rosto, olhos, nariz, boca, como quem buscava externada imperfeições outras que de dentro saltavam. E lá estavam, paradas, a alavanca de toda essa comoção, de todo esse revirar que fez nascer em mim, essa engatinhante escritora, esse desabafo, essa constatação.
A surpresa me fez recorrer à aquela que para mim é sem dúvidas a maior e mais rica fonte de conhecimento, de vida, de tudo enfim, minha mãe, que nada tinha a ver com o que se passava, apenas seguia tranquilamente a sua rotina de dona de casa aplicada, com ela é, e, sem nenhum abalo, deu me a resposta , o ponta pé para a minha descoberta, para o começo desse estágio, para esta metamorfose que agora vivo. Ao pergunta-la, assustada, temendo o pior ou o desconhecido, tive, por instantes ao menos, a sensação de alívio, de conforto, de aconchego. O que me deixou tão assustada foi, ao continuar com minha inspeção sobre a minha imagem, ver em meu pescoço, um número considerável de verrugas, sim, de verrugas, pretinhas, pequeninas, e que causaram tão significativa descoberta, perguntei aflita a minha mãe interrompendo a serenidade das suas atividades, se ela já tinha visto, e como eram tantas as verrugas em mim, e minha mãe mais uma vez, sabiamente, ou até sem ter a consciência do quão importante foram suas palavras, disse: - o que tem?  Nunca tinha visto? Eu continuava perplexa, a espera do desfecho, do seu discurso.  Mas não imaginava o tanto que ele me modificaria. Continuou minha mãe: - Lola tem, eu tenho, tia Biba tem...é a sua herança!!!
Foi aí então que meus sentidos entraram em conflito, eu buscava me segurar em um fragmento qualquer das palavras que ela, sem cerimônia alguma, lançara sobre mim.  Eu tinha uma herança, sabem o que isso causou mim, conseguem prever, ou sentir a dimensão dessas palavras?! Era um divisor de águas, uma nova era que se iniciava. Eu pertencia a algo, eu que passara a minha vida sempre em busca, sempre querendo saber para onde ir, que chorara, e arrastara o medo de não saber, não acertar, não ter, não ser, tinha recebido ali, assim, a solução que nem eu mesma sabia que existia.                  
Eu podia ser uma errante, eu com esta declaração serena, mas com firmeza e um leve sorriso nos lábios da minha mãe, eu podia arriscar, era como se minha mãe inconscientemente soubesse, é chegada a hora!
Caros, entendam, que a minha descoberta vai muito além de verrugas pequeninas e pretinhas, eu podia ousar, eu, agora posso, ir, voltar, revê, refazer, sem temor algum a minha estrada, os meus caminhos, não é mais para onde vou, se irei ou não alcançar, ou  conseguir.  O que tenho é maior, não importa para onde os ventos, os sonhos me levem, eu agora tenho para onde voltar, agora tenho meu porto, minha origem, minha herança.

 

terça-feira, 14 de junho de 2011

Aqui, ali





"A simplicidade do belo, que assusta tanto os homens."

vou ficar
o tempo que preciso for
pra te dar todo o amor necessário

vou correr
por toda terra a procurar
seu olhar e o sorriso que é tão raro


a vida me fez pra ser feliz
e o teu coração me diz o mesmo

vou chorar
às vezes vou sorrir de amor

ser assim trazer o lado bom das cores

vou somar
os restos que você deixou
melhorar, reparando minhas dores

a vida me fez pra ser feliz
e o teu coração me diz o mesmo


solidão partiu, agora só você e eu aqui

solidão partiu, agora só você e eu aqui, ali
pra ser feliz, pra viver, pra sonhar
pra sorrir ou chorar, assim, pra sempre.


Roberta Campos

sexta-feira, 20 de maio de 2011



Teus olhos
Marcelo Camelo e Zé Pereira

Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos
Teus olhos abrem pra mim

Teus olhos abrem pra mim
Todos os encantos bons
Tudo que se quer vai lá

Eu vi na terra
Você chegando assim
Assim, de um jeito tão sereno

Ai, ai, meu Deus do céu
Eu vivo sem pensar
Se sou só

Acho que não vou mais
Agora tudo tanto faz,
meu bem
Eu vi você passar
levando meu encanto

Caminho sem saber de mim
Eu vivo sem pensar
Se sou só
Ou sou mar

Mas eu conto com você
Pois enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá
Mas enquanto eu não me resolver
Eu vou lá, eu vou lá


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Nesse momento de incertezas, onde a vida me apresenta muitas dúvidas e sensações, nada melhor do que a escrita para me apresentar um pouco do conforto que necessito. Apreciem com carinho.


A menina do “não sei”
Em todas as fases e faces de nossa vida existem acontecimentos e sentimentos que promovem o nosso amadurecimento, autoconhecimento e maturidade. Mas, certamente, a mais prazerosa delas é a adolescência. Nessa fase da vida tudo é mais intenso, forte e avassalador. Eu fui uma adolescente muito tranqüila no que diz respeito ao tratamento com os meus pais, amigos e estudos. Nesses aspectos, tudo transcorria na mais perfeita harmonia. Porém, quando se tratava de amor, de me apaixonar, do trato com o sexo oposto, eu me sentia como um mar constantemente bombardeado por muitas tempestades. Uma delas foi um estudante de psicologia que parece ter encontrado em mim um caso de extrema complexidade para os conceitos recentemente aprendidos sobre a mente humana.
Nos conhecemos por intermédio de amigos comuns e inicialmente uma empatia bem serena e agradável fazia parte das ocasiões que nos encontrávamos. As conversas eram sempre muito prazerosas, as afinidades e os diálogos cheios de conhecimento e algum tipo de sabedoria, encantava-nos mutuamente. Um ambiente de admiração e carinho foi sendo construído entre nós. Conversávamos sempre. Nos víamos com freqüência e ficávamos com saudade desses momentos de encontro de almas. Com saudade daquela sensação boa de ter encontrado alguém que é seu lugar no mundo.
Por ser uma pessoa mais prática e racional, como definida por ele mesmo, a necessidade de um envolvimento também sexual se fazia necessária na minha concepção, para tornar completo esse encontro tão ímpar em minha vida. Eu necessitava de beijos, de beijos ardentes, daqueles que nos deixa sem fôlego, que nos fazem sonhar com a pessoa, que nos fazem transcender só de lembrar da sensação tão prazerosa que é esse encontro verdadeiro de lábios e línguas. Mas, como uma mocinha bem comportada que era, jamais tomaria a iniciativa em beijá-lo. Eu sentia que ele também desejava esse momento mas, acredito eu, devido a esse encontro tão raro que tivemos, talvez ele não o quisesse estragar, transformando-o em algo tão tátil.
O apelido mais carinhoso que ele conseguiu me dar foi “a menina do não sei”. Depois que eu já me via apaixonada por ele, os nossos diálogos perderam a veemência em discutir o conhecimento, as teses e concepções do mundo. Eu já não me sentia tão segura e hábil a responder algumas de suas indagações. Perdi a segurança diante dele. Fiquei frágil. Então, para muitos de seus questionamentos, eu respondia sempre dizendo um simples “não sei”. Na verdade, eu já não sabia se sabia ou não responder às questões que ele me propunha. Me via tão embriagada pelo que estava sentindo que perdi o foco de impressioná-lo, de participar de maneira mais incisiva e culta das conversas que tínhamos. Ele certamente percebeu e foi muito sútil em me mostrar isso.
Algumas das muitas vezes em que nos encontrávamos, não sozinhos, mas sempre na companhia de amigos comuns, éramos os últimos a nos abandonarmos, ficávamos horas a fio envolvidos em nossas palavras, e por conta disso, algumas vezes ele me levava em casa. A nossa conversa era alimentadora de passos lentos e às vezes algumas paradas por entre as ruas quase desertas no caminho onde eu morava. Ele era bem mais alto que eu, o que me levava a pensar, por algumas vezes, em como seria possível nosso beijo. Felizmente, como homem inteligente que é, isso foi facilmente resolvido no momento oportuno, que felizmente chegou. É, chegou. Em um desses dias que fomos abandonados pelos nossos amigos diante do tanto que tínhamos a dizer um para o outro, ele cumpriu com sua gentileza ao me acompanhar até em casa. O caminho foi, como sempre, bem agradável. Com discussões que versavam de política, cultura, educação, amor, etc. No momento então que me vi em frente de minha casa e pronta para mais uma vez me despedir dele com um beijinho no rosto e um desejo de boa noite, ele me pegou pela cintura e me colocou sobre a calçada, que era um pouco alta, possibilitando então que tivéssemos quase a mesma altura. Eu agora era mais alta que ele, o que facilitou para que eu me apoiasse em seus ombros e ele me puxasse para si e eu então tivesse a tão desejada oportunidade de beijá-lo. E assim eu o fiz. Foi um beijo tão simples, calmo, demorado e doce. Não consegui fazer como imaginei, um beijo sensual. Eu diria até, se isso é possível, que foi um beijo maduro e complexo. Embora envolvendo dois adolescentes, foi um beijo adulto, fruto de um amor longamente semeado, cautelosamente cuidado e finalmente colhido.

terça-feira, 15 de março de 2011

         É chegada a hora de tornar público mais um escrito meu. Apreciem sem moderação...

O desejo

É possível ser adolescente sem se apaixonar por um homem mais velho?! A excitação que a experiência de vida pode causar em uma menina desenvolve um fascínio irresistível de ser controlado.
Quando vi aquele homem bem mais velho que eu, 14 anos de diferença, me olhar com olhos de desejo, a vaidade me fez companhia, pois ainda adolescente já exercia bem as minhas responsabilidades e a futilidade nunca me acompanhou. O que me pertencia era um imaginário fértil sobre o que era o amor, o sexo, o desejo, o encontro de corpo e de alma. Ele então, sempre se comportou de maneira muito respeitosa e responsável, pois além de se tratar de uma menor de idade, era amigo de toda a minha família, aliás, nossas famílias eram amigas.
Me lembro muito e bem, de suas mãos, eram mãos não muito grandes mas tinham um formato perfeito. Além de serem bem cuidadas e feitas semanalmente, eram mãos que sabiam tocar, acarinhar uma mulher com perfeição. Eu me perdia em pensamentos quando as via. A concentração me fugia e eu ficava meio boba mesmo em minha imaginação de menina pensando no seu toque em meu rosto, meu corpo, meu cabelo. Imaginava a cena dele segurando meu rosto com carinho enquanto me beijava. O que seria do homem sem a imaginação?! Segundo Einstein, ela é mais importante que o conhecimento. Eu, em hipótese alguma, posso discordar.
A questão é, depois de alguns dias de convivência, me vi sozinha com ele, só nós dois juntos. Eu tentava executar minhas tarefas, ele também, mas, redundantemente nos chocávamos, acredito eu que propositalmente. Até que, em um desses choques, aquele momento aconteceu. Aquele em que as pessoas se olham fixamente e perdem a voz, as palavras fogem e os olhos percorrem cada pedaçinho do rosto do outro. Esse momento existe!!! Eu achava que era apenas cena de novela. Não, aconteceu comigo. É um momento de transe, de êxtase. Você se vê ali parada, frente a frente com seu “objeto” de desejo. Ele estava a poucos centímetros de minhas mãos. Esse foi um dos poucos momentos de minha vida, que perdi a retidão dos meus pensamentos. Foi um prazer bem irresponsável, infrator e delituoso. Ele ia me beijar. E quando inclinou seu corpo para fazê-lo e tocou meu rosto com delicadeza e aquelas mãos realmente perfeitas, como eu havia imaginado...eu me afastei. Pedi que ele amarasse meu cadarço, é, o cadarço do tênis que eu usava no dia. Ele delicadamente se agachou e o fez. Amarrou meu cadarço. Perguntou se estava bom. Eu respondi que sim, ainda sem retomar a minha consciência, ainda embevecida pelo momento. Senti um prazer inédito naquele momento. Primeiro pelo desejo explícito que ele tinha por mim, depois pela delicadeza que teve ao ter se agachado, se colocado aos meus pés para amarrar meu cadarço.
Quando então ele ficou de pé, eu agradeci pelo favor, me despedi e fui pra casa. Fui todo o caminho exercitando a responsabilidade de não tê-lo beijado. Eu não me culpava por não ter acontecido, o beijo, nem me arrependia por não ter seguido em frente, de ter interrompido a vontade de nós dois. Eu enxergava apenas o orgulho em ter despertado nele o desejo em me beijar. Você ser dono do desejo do outro representa que esse desejo é seu. Me senti gloriosa, não me importava se era tesão, paixão, amor, não queria saber o que o fez tentar me beijar. O que me importava e interessava, foi que eu o atraí e não foi uma atração qualquer. Pelo respeito que as nossas famílias tinham uma pela outra, ele sabia que aquele era um ato transgressor. Eu o fiz transgredir.


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Orla de Maceió - AL














Sou Você
Caetano Veloso


Mar sob o céu, cidade na luz
Mundo meu, canção que eu compus
Mudou tudo, agora é você

A minha voz que era da amplidão
do universo da multidão
Hoje canta só por você
Minha mulher, meu amor, meu lugar
Antes de você chegar
era tudo saudade
Meu canto mudo no ar
Faz do seu nome hoje o céu da cidade

Lua no mar, estrelas no chão
A seus pés, entre as suas mãos
Tudo quer alcançar você

Levanta o sol do meu coração
Já não vivo, nem morro em vão
sou mais eu por que sou você

Minha mulher, meu amor meu lugar
Antes de você chegar
era tudo saudade
Meu canto mudo no ar
Faz do seu nome hoje o céu da cidade

Lua no mar, estrelas no chão
A seus pés, entre as suas mãos
Tudo quer alcançar você

Levanta o sol do meu coração
Já não vivo, nem morro em vão
sou mais eu por que sou você.


sábado, 29 de janeiro de 2011


Minha primeira postagem literária, seguirá também uma ordem cronológica. Esse foi o meu primeiro conto. Logo, logo outras publicações serão apreciadas por todos. Aguardem...
Ninguém


As histórias de amor entre primos é algo que permeia a mente humana já há algum tempo. Desde os meus primeiros passos no caminho da conquista do outro eu ouço relatos de casos entre primos. Alguns odiados pelos entes e parentes, amaldiçoados pela suspeita de filhos imperfeitos; outros tratados como brincadeira de criança, de adolescente, como a descoberta em família, de uma possível sexualidade. Essas muitas palavras de inquietude, esse mistério e a sedução que rodeia um romance em família me fizeram por diversas vezes me imaginar em enlaces amorosos com alguns de meus muitos primos de primeiro e segundo grau. A maioria ficou somente no devaneio de minha mente fértil. Até que, durante uma das minhas muitas viagens para tentar conhecer por completo as ramificações de minha grandiosa família, eu conheci um primo de segundo grau, bem especial. Ele era um misto de delicadeza em seus traços físicos e rudeza de atitudes e palavras. Parecia, como dizem algumas pessoas, um diamante em seu estado bruto esperando o momento de ser lapidado.
A empatia foi imediata, e como ele é mais novo que eu poucos anos, saíamos juntos para passear por repetidas vezes na praça da cidade, conversar sobre a vida alheia, paquerar aos outros e a nós mesmos e em alguns momentos beber a bebida dos deuses, o vinho.
Como é muito comum em cidades do interior, aconteciam muitas festas particulares apenas para potencializar a diversão e o encontro entre amigos. Não se precisava de um motivo para estar junto e comemorar. O simples fato de estarmos ali, na mesma cidade e sabendo que logo íamos nos separar, já era o suficiente.
As nossas conversas tomavam cada vez mais a direção do sexy, do sexo e do prazer. O seu rosto me era encantador. Uma boca com lábios finos, numa pele clara, que o deixava rosado quando se constrangia, e olhos tristes, pidões, carentes de um afago, de um carinho. Eu tinha sempre a impressão de protegê-lo, um sentido materno, acolhedor; o que me deixava ainda mais atraída. E a proteção era recíproca, coisa de "homem adolescente" que acha ser possível se transformar em um super-homem a qualquer momento que ofereça risco ou perigo. Isso me cativava e eu era capaz de passar horas antes de dormir lembrando de suas palavras, seus olhos, do seu jeito falsamente despretencioso de aparecer onde eu estava ou procurar por mim se esforçando para que eu não percebesse.
Como as paixões são sempre perigosas, arriscadas e excitantes, os nossos encontros eram sempre uma prova de resistência. Certa vez saímos separados de uma festa, eu primeiro, ele depois, pois poucas pessoas sabiam dessa atração que sentíamos e há algum tempo estávamos descobrindo. Depois de sussurar ao meu ouvido o local do encontro, lá fui eu saindo de fininho, sem me despedir de ninguém e fiquei esperando por ele no lugar determinado. Pouco tempo depois ele chegou, poucas palavras foram ditas e muitos beijos foram dados. É muito boa a sensação de ser comida por um beijo, de perceber o outro degustar o seu sabor através da boca. Nossos beijos eram assim, molhados, ardentes, macios, fortes. E enquanto me beijava eu podia sentir suas mãos percorrendo meu corpo, costas, nuca, cintura. A respiração ficava cada vez mais ofegante e era impossível ignorar o pedido de nosso desejo em fazer amor. Como num ato de pura insensatez me ajoelhei e o chupei ali mesmo, escondida por um muro, mas em uma via pública, prestes a ser surpreendida por qualquer morador daquele local. Mas era tudo tão gostoso. O sabor do sexo, o perigo em ser descoberta, os gemidos que ele dava e o pedido de que não parasse. Tudo isso me encorajava a continuar e me proporcionava mais prazer. Até que, de repente, decidi parar, parece que o meu consciente finalmente assumiu as rédias do meu ser e eu interrompi aquela deliciosa degustação. Me dei então de cara com um menino pidão, desesperado para que eu o levasse ao ápice de seu prazer. Isso despertou em mim uma face perversa e cruel que me fez abandoná-lo ali, na rua, altas horas da madrugada, de calças arreadas e completamente excitado. Me levantei, beijei-o na boca e fui pra casa. Dormi calma, leve e muito relaxada.



    Por ter uma profissão que envolve pontos e pingos, não posso deixar de apreciar a grande profissional que é a Viviane Mosé. Psicóloga e psicanalista de formação, ela também versa muito bem sobre Filosofia.
     Como escritora, os seus poemas são muito próximos dos "humanos" e possuem um toque de muita sensibilidade e força. Dentre os muitos que aprecio, deixarei registrado aqui um que trata com bastante verdade a nossa relação com o tempo e apresenta um cunho expressivo do Nietzsche.

    "Quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele
      soprando sulcos na pele
soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercitando instantes
acho que ganhei presença)
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim.
e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando..."
Viviane Mosé - Pensamento Chão - Poemas - Editora Record - 2007.

 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

     O intervalo infinito representa a amplitude pertencente ao ser humano,
independente de suas limitações.
Em Matemática, alguns intervalos são infinitos e limitados.
Essa referência nos remete à riqueza que todo ser humano possui independente
das extremidades que o cerca.
Para a espiritualidade, a nossa existência é um intervalo de nossa infinitude. 
Assim, é sempre possível ser infinito dentro de qualquer limitação que nos abarque.
Independente da área trabalhada, estudada ou pretendida, tudo se resume a um arranjo,
harmonioso ou não, de pontos e pingos.