sábado, 22 de dezembro de 2012

Aniversário da dor

                                                                                   
Sem título (2008) - Fernando Lindote
Aniversário da dor:

As recordações corroem a alma...
E as imagens do passado
assolam a mente...

Tempo de sentimentos puros,
de realização plena,
de sensações ímpares.

Lembranças de um ser feliz,
de uma ilusória ficção.

A não realidade
que realiza o ser.

                                                  

sábado, 8 de dezembro de 2012

Saluba Nanã!

 
                        Música: Ponto de Nanã
                        Intérprete: Mariene de Castro
                        Álbum: Tabaroinha                                   

           

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Cristais

sem nome (sem data)
Fernando Lindote


  Cristalizar a dor:

   transformar lágrimas

   em pequenos cristais.

   Amenizar assim

   a dor de existir,

   a dor de viver...

   a dor de perder.





    

domingo, 25 de novembro de 2012

A guardiã do tempo



Mulher na janela, Salvador Dali, 1925.



A pele que hoje tocas,
não é a mesma de tempos atrás.

Ela sentiu frio,
calor,
molhou-se com a água do céu.

Arrepiou-se com as barbáries do mundo,
arrepiou-se também em momentos de êxtase.

Foi tocada por diversas mãos,
e dessas mãos colheu ao máximo,
o afago.

Teve ferimentos,
e desses,
algumas cicatrizes.

A sua temperatura porém,
a mesma não é.

Alguns graus foram perdidos
naquele tempo,
tempo em que ela pode sentir,

quão ardente é a paixão,
quão fria é a solidão,
quão quente é o amor,
quão branda é a saudade.

E dentro dela, o que há?
Que mulher ela,
com seus contornos,
guarda?!

 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012


Mário Castello
Fotografia: Lápis para escrever, 2008.


Furioso,
o menino pega o lápis
e com ele
traça pontos,
que se tornam linhas,
que se tornam palavras.

Nelas,
os seus sonhos de vida,
os seus desejos mais impossíveis,
o seu formar enquanto homem.

E nesse contato tão rústico,
toda conquista se inicia
e toda mudança acontece.

 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Salve Chico!



Futuros amantes (1993)
Chico Buarque

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que um dia
Deixei pra você.

"Eu estava mexendo no violão, começei a fazer a melodia, e a primeira coisa que apareceu foi exatamente cidade submersa, isolada de tudo... Porque cantarolando parecia cidade submersa, parecia que a música queria dizer isso. E eu tinha que ir atrás depois, tinha que explicar essa cidade submersa, tinha que criar uma história. Aí eu coloquei esses escafandristas e esse amor adiado, como algo que pode ser aproveitado mais tarde, que não se desperdiça. Passa-se o tempo, passam-se milênios, e aquele amor vai ficar aí debaixo d'água e vai ser usado por outras pessoas. Amor que não foi utilizado. Porque não foi correspondido, ele ficou ímpar, pairando ali, esperando que alguém o apanhe e complete a sua função de amor."
Chico Buarque.

Trecho do livro Histórias de canções: Chico Buarque, de Wagner Homem, São Paulo, 2009.


Eu não conhecia muito a obra do Chico Buarque através de sua voz. Por ser nordestina e valorizar muito os artistas da minha região, por ter sido influenciada musicalmente por um pai que valoriza os artistas da terra, não havia me rendido aos encantos desse fluminense de olhos tão tristes e belos. Suas músicas porém, conheci sim, principalmente pela belíssima voz da Gal Costa. Confesso que as prefiro cantadas por ela. Sempre gostei mais de vozes femininas a embalar músicas. Gal deu ao Chico toda a sutileza que ele merece. Uma voz gentil, doce, carícia aos meus ouvidos, principalmente no CD Mina d'água do meu canto onde a mesma interpreta canções de Chico e Caetano e onde ouvi pela primeira vez a música acima escrita. Outra responsável em me tornar mais íntima da obra do Chico foi a Maria Bethânia.  Intensidade...é a mais simples palavra que posso usar para definir tamanha entrega. É visceral! A Bethânia já é profunda por natureza, quando canta o pesar de Chico fica ainda mais bela e forte. Acho que agora, na ocasião em que leio o livro do Wagner Homem e depois de ter o Chico apresentado a mim por intermédio dessas duas divas, ele me parece bem mais rico de sentido. Me parece mais fundamentado, mais propício. O delicioso exercício que eu costumo fazer nesses dias em que me deleito com o livro é ouvir as canções do Chico, cantadas por ele. Aquela voz ímpar, cheia de pesar, sentimentos e vida.   

Palavras

As palavras...
 
borbulham em minha cabeça
 
como que me pedindo
 
para morar

em um conto,

um poema,

um escrito qualquer.


Sem sombra de dúvidas...a melhor intérprete da música brasileira!


Música: Canto de Ossanha
Letra e melodia: Baden Powell e Vinícius de Moraes
Intérprete: Elis Regina

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


DIA DO PROFESSOR




Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.
A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.
Paulo Freire

 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Poesia e vida



Existem livros que conseguem ser adaptados à nossa rotina. Sua leitura sobrevive ao passar dos carros, as visitas dos amigos, à família, ao trabalho, à rotina. Essa obra da Ângela Vilma - Poemas para Antonio - porém, necessita que o mundo pare! Ela é sideral. Necessita que você se transmita a uma nova atmosfera, a um novo universo.
A sensação que tive quando começei a ler foi de que eu não era o ser que me constituí. Eu não era a pessoa que por anos construí. Me transportei para um ambiente revestido de amor, de intensidade, de paixão, de vida. O mundo externo a isso, deixou de existir. A poesia da Ângela traduz em suas tão cuidadosas palavras os sentimentos mais singelos, vorazes e intensos do ser. Parabéns Ângela!

 

domingo, 30 de setembro de 2012

Música...aos bons ouvidos.


Sentidos

Meus olhos o enxergam como querem,
meu nariz sente o cheiro do homem que sempre quis pra mim,
meus ouvidos ouvem palavras cuidadosamente selecionadas,
ao som da voz de quem amo,
todo o corpo parece ouvir,
minhas mãos sentem superficialmente a maciez de uma pele que esconde profundezas,
minha boca degusta o sabor do amor através de seus lábios.
Ai meu Deus,
quanta limitação,
sentir-lhe assim por sentidos tão vagabundos.

 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O beijo


O beijo, Gustav Klimt, 1907.

 
Seus lábios são um precipício,
onde por vezes quero me atirar.
Talvez neles eu encontre a morte,
e talvez na morte possa me encontrar.

 

terça-feira, 3 de julho de 2012

A padaria


Num fim de tarde de inverno...o sol quase se pondo e uma brisa fria envolvendo seu corpo....
Ela, com calça jeans, camiseta decotada e um colete cor de rosa para dar o tom de feminilidade. 
Sandália alta, cabelos arrumados, maquiagem....
De repente, o ambiente se torna aconchegante e caloroso. Ele chegou!
Em sua moto...sempre atraente...para buscá-la. Elogia os seus cuidados em arrumar-se. 
Lhe oferece o capacete. Ela sobe na moto...
Vão rumo ao universo onde apenas eles existem. Onde nada é proibido. O amor que sentem é livre. 
Antes de mais uma vez se amarem. Ele tira de uma bolsa, não percebida por ela, mimos em forma de petiscos...pastéis, pão de queijo, um vinho. Ela...receosa em driblar sua dieta, é cuidadosa no degustar esses pequenos carinhos. Ele insiste: Coma um pouco, prove, são da melhor padaria da cidade! Eu sei que você faz dieta, mas experimente!
Ele buscava uma cumplicidade. A cumplicidade dos que doam o seu amor assim, acarinhando com mimos culinários, o ser amado.
Depois de elogios e críticas ao “banquete”, os dois começam a provar o sabor de gente. 
De homem e mulher se amando. Gosto de quem se entrega inteiramente ao amor. 
Sabor de boca, de seios, de pernas, de braços, de sexo. Assim passam horas a provar um ao outro, enquanto a realidade ainda permite as suas ausências. Inevitavelmente, esse momento chega ao fim. 
Eles se despedem.
Hoje, ela aguarda em frente ao balcão da padaria, a atendente entregar o seu pedido.
- Quantos pães senhora? E o salgado, vai querer nenhum não?

 

terça-feira, 12 de junho de 2012



 

QUADRILHA

João amava Teresa 
que amava Raimundo
que amava Maria 
que amava Joaquim 
que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, 
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, 
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se 
e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

 

sexta-feira, 27 de abril de 2012






O encontro


Um derrame de palavras
que se cruzam,
ora ordenadas,
ora desordenadamente. 

Um tempo que é o sempre
de um momento que é o agora.
 
Um sentimento que é constante
para uma vida que deve ser apreendida.