sexta-feira, 22 de julho de 2011


Aquilo

Aquilo não era amor.
Era um acelerar de corações,
um frio incessante na barriga,
sem começo nem fim.

Aquilo não era amor.
Era um abandonar do mundo
para estar com uma única presença.

Aquilo não era amor.
Era um nervosismo constante,
uma necessidade urgente
de termos um ao outro.

Aquilo não era amor.
Era a negação de tudo que
eu achava que era
para deixar chegar quem ele
acreditava que eu seria.

Aquilo não era amor.
Era um desejo que só
tinha começo,
era a reinvenção do prazer humano.

Aquilo não era amor,
era muito mais.

 

quinta-feira, 21 de julho de 2011



Hoje eu sinto saudade de mim mesma.
De uma “eu” que o tempo levou.
De uma inocência juvenil.
De um dispensar das horas, sem culpa.
De uma bestialidade com sentido.
 
Hoje, eu vejo essa versão de mim se afastar cada vez mais.
Vejo-a muito distante,
e por vezes, a vejo me ver.
O estranhamento é nítido.
Quase a sinto reprovando minhas ações,
criticando meu sorriso falso e
ironizando a minha falsa felicidade.

Hoje, nesse meu momento de buscar onde sentir
que estou perdendo a mim mesma,
o instante me escorre pelos dedos e o cotidiano
exige minha presença.

 

terça-feira, 19 de julho de 2011



Impressões

Desde muito pequenina a curiosidade foi minha companheira, meu alimento, minha guia. Desde muito menina, aprendi o prazer e os riscos de dar asas à minha alma e à curiosidade que habita em mim. E não cresci diferente, admito! Embora saiba e tenha consciência, embora a razão não me tenha faltado, me tornei sim, uma mulher curiosa, alerta para as maravilhas da vida, uma mulher que se permite o encanto de cada descoberta. E, antes que os julgamentos se multipliquem, antes que se cristalizem sob mim, saio em minha defesa!
O que seria do mundo sem os curiosos? São eles que perpetuam as descobertas, as melhorias, os sonhos, o encontro com o que se busca, se deseja! E foi em busca do encontro comigo mesma, foi pela necessidade de obter respostas a questões outras minhas e quiçá, da humanidade inteira, que cheguei às minhas descobertas. Assim que pude tecer opiniões, sobre o mundo e sobre a existência, me vi povoada de incertezas saltitantes, ébrias, e tresloucadas de mim e do mundo. Antes de rir-se de mim, ou da inocência declarada das palavras minhas, recobre a memória que há em ti de liberdade e devaneios e verás lá também tantas outras indagações pueris, ou nem tanto assim, fruto dessa tal curiosidade. Tentarei explicar, se possível, o motivo, ou a motivação para tais palavras tão errantes, e tão frágeis no seu existir.
Nesta manhã, que seguia como tantas outras, sem importância, ou sabor nenhum, me deparei novamente com a curiosidade que há em mim, genuína, sincera e pura talvez, refletida na minha imagem, sim, lá estava o pivô de todo esse embrolho semântico e lingüístico, que no fundo busca sentido, para minha alma que sabe o peso de todas as incertezas que trás em si.
 Na imagem refletida pelo espelho com a ajuda da luz matinal que adentrava pela janela, como se fosse a luz do saber, do conhecimento, do desvendar, pude ver, pude me ver, e examinar cada parte do meu rosto, olhos, nariz, boca, como quem buscava externada imperfeições outras que de dentro saltavam. E lá estavam, paradas, a alavanca de toda essa comoção, de todo esse revirar que fez nascer em mim, essa engatinhante escritora, esse desabafo, essa constatação.
A surpresa me fez recorrer à aquela que para mim é sem dúvidas a maior e mais rica fonte de conhecimento, de vida, de tudo enfim, minha mãe, que nada tinha a ver com o que se passava, apenas seguia tranquilamente a sua rotina de dona de casa aplicada, com ela é, e, sem nenhum abalo, deu me a resposta , o ponta pé para a minha descoberta, para o começo desse estágio, para esta metamorfose que agora vivo. Ao pergunta-la, assustada, temendo o pior ou o desconhecido, tive, por instantes ao menos, a sensação de alívio, de conforto, de aconchego. O que me deixou tão assustada foi, ao continuar com minha inspeção sobre a minha imagem, ver em meu pescoço, um número considerável de verrugas, sim, de verrugas, pretinhas, pequeninas, e que causaram tão significativa descoberta, perguntei aflita a minha mãe interrompendo a serenidade das suas atividades, se ela já tinha visto, e como eram tantas as verrugas em mim, e minha mãe mais uma vez, sabiamente, ou até sem ter a consciência do quão importante foram suas palavras, disse: - o que tem?  Nunca tinha visto? Eu continuava perplexa, a espera do desfecho, do seu discurso.  Mas não imaginava o tanto que ele me modificaria. Continuou minha mãe: - Lola tem, eu tenho, tia Biba tem...é a sua herança!!!
Foi aí então que meus sentidos entraram em conflito, eu buscava me segurar em um fragmento qualquer das palavras que ela, sem cerimônia alguma, lançara sobre mim.  Eu tinha uma herança, sabem o que isso causou mim, conseguem prever, ou sentir a dimensão dessas palavras?! Era um divisor de águas, uma nova era que se iniciava. Eu pertencia a algo, eu que passara a minha vida sempre em busca, sempre querendo saber para onde ir, que chorara, e arrastara o medo de não saber, não acertar, não ter, não ser, tinha recebido ali, assim, a solução que nem eu mesma sabia que existia.                  
Eu podia ser uma errante, eu com esta declaração serena, mas com firmeza e um leve sorriso nos lábios da minha mãe, eu podia arriscar, era como se minha mãe inconscientemente soubesse, é chegada a hora!
Caros, entendam, que a minha descoberta vai muito além de verrugas pequeninas e pretinhas, eu podia ousar, eu, agora posso, ir, voltar, revê, refazer, sem temor algum a minha estrada, os meus caminhos, não é mais para onde vou, se irei ou não alcançar, ou  conseguir.  O que tenho é maior, não importa para onde os ventos, os sonhos me levem, eu agora tenho para onde voltar, agora tenho meu porto, minha origem, minha herança.